quinta-feira, setembro 09, 2004
Portugal é um país de conformistas exuberantes e de inconformistas silenciosos ou silenciados. Nestes nossos trinta anos de democracia, recordo, entre os últimos, dois homens notáveis, Jorge de Sena e Vitorino Magalhães Godinho. Inconformista é quem vai contra a corrente, contra o politicamente correcto. Faz análises contra o senso comum e propostas para além do que é considerado legítimo.
Ser inconformista é muito difícil nos dias de hoje devido ao peso dos media. Por um lado, reforçam o conformismo ao transformá-lo na opinião pública. Por outro lado, ante o que identificam como inconformismo, ou ignoram-no, se podem, ou, se não podem, hostilizam-no pela dramatização, caricatura ou insulto. Esta actuação de hostilização só é accionada no caso dos inconformistas declarados.
Entre os inconformistas silenciados e os inconformistas declarados há vários tipos de inconformismo ignorados pelo comentarismo conformista. Entre eles distingo os inconformistas pedagógicos sempre com esperança de desestabilizar o conformismo (Eduardo Prado Coelho, Maria de Lourdes Pintasilgo e Manuel Villaverde Cabral) e o inconformismo reflexivo, inconformado sobretudo ante o seu próprio inconformismo, de que temos um brilhante caso único, Eduardo Lourenço.Nos últimos tempos assistimos a um surto de inconformismo declarado.
Boaventura de Sousa Santos
bsantos@fe.uc.pt
Saramago-Publicado na Visão em 8 de Abril de 2004
Inconformado at 9:13 da tarde
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